Como encontrar e manter a motivação nas profissões jurídicas

Quem motiva quem?

Como se manter motivado no dia a dia das profissões jurídicas para enfrentar todos os desafios? Como manter o foco? Eventos motivacionais funcionam?

Começamos da última pergunta. Eventos motivacionais produzem efeitos, mas normalmente não são duradouros, porque a motivação é algo que deve partir da pessoa, e não de estímulos externos, para que tenha continuidade e constância.

Existem eventos e palestras onde as pessoas cantam, dançam, se abraçam e afirmam que podem e conseguem, e tudo o mais. Esses eventos apresentam efeitos normalmente efêmeros. Com a volta ao cotidiano do escritório, do setor ou da repartição, em regra tendem a se dissipar, se mudanças efetivas não são implementadas.

Até para cometer um crime, o sujeito tem suas motivações, que aliás são consideradas como critério de dosimetria da reprimenda, conforme lemos no art. 59 do Código Penal…

Automotivação, aliás, é um dos quatro domínios da inteligência emocional, segundo o elaborador do conceito, o psicólogo Daniel Goleman.

Pois bem. Como criar e manter motivação para alcançar o sucesso na carreira jurídica?

 

Autoconhecimento

Primeiramente, ampliar o autoconhecimento, a consciência sobre si mesmo.

Isso passa por observar os pensamentos, as emoções, as dúvidas, as angústias, os anseios, o grau de ansiedade, etc.

Autoconhecimento é algo profundo, uma tarefa para toda a vida. Vai muito mais além do “sou assim mesmo”; busca encontrar as raízes dos pensamentos, dos sentimentos, dos comportamentos, das sensações, das percepções subjetivas.

Gosto sempre de lembrar de uma frase de Carl Jung quando está em pauta o autoconhecimento. Fique com ela e reflita: “Todos nós nascemos originais e morremos cópias”. (!)

É uma tarefa complexa, mas algum nível elementar já ajuda bastante. Autoconhecimento visa nos levar a saber o que nos diferencia dos demais, o que nos faz ser uma pessoa única. Consequentemente, ao nos conhecermos, encontramos nossa essência, nossos valores. Também nossas limitações e fraquezas. Isso tudo é fundamental para a motivação.

 

Valores

Ao nos observarmos, começamos a perceber nossos valores. Valor, no contexto do Coaching, é definido como algo que é importante para nós, e está fortemente ligado a nosso conjunto de crenças. São exemplos de valores: família, prestígio, dinheiro, ética, lazer, justiça, religião, beleza, reconhecimento, amizade, honestidade, espiritualidade, crescimento, saúde…

O conceito guarda alguma relação com o fator axiológico encontrado na Teoria Tridimensional do Direito, de Miguel Reale, a qual trata das dimensões da norma, do fato e do valor. Sob a perspectiva jusfilosófica, o autor trata  dos valores caros a uma determinada sociedade, como sendo objetos ideais informantes da norma. A temática é explorada com profundidade ímpar na clássica obra Filosofia do Direito.

Voltando ao Coaching, fato é que quando nossas ações estão alinhadas com nossos valores preferidos, em regra conseguimos nos manter motivados, mesmo apesar das dificuldades que costumam surgir na prática cotidiana.

Alguns exemplos sobre valores na carreira jurídica: se nossa motivação é reconhecimento como profissionais, certamente estaremos motivados para produzir boas peças processuais e boas atuações nos tribunais. Se nossa motivação é um ganho financeiro maior, nos motivamos para trabalhar mais ou aumentar o valor dos honorários, ou ainda para buscar concursos mais bem remunerados. Já se a motivação é vinculada ao valor justiça, nossas ações possivelmente buscarão uma apuração probatória mais detalhado nos processos, priorizando a busca da verdade, ainda que deixando em segundo plano o valor celeridade. E por aí vai.

 A importância das metas bem definidas

Manter a motivação também depende de ter metas bem definidas. A elaboração de metas é matéria de técnicas do Coaching e da PNL. Por isso, uma “pergunta besta” que costumo fazer em minhas apresentações e para meus coachees é:

  O QUE VOCÊ QUER?

É mais do que comum as pessoas não saberem, ou não saberem especificamente…

O primeiro ponto é tomar decisões. Nosso cérebro, segundo alguns estudos, toma as decisões no nível inconsciente, e só então “informa” para o nível consciente. Não por acaso, há técnicas próprias para se conhecer o processo decisório e tomar melhores decisões, a partir deste “resgate” do conteúdo das decisões pela mente consciente.

Tomada a decisão, é hora de registrar, tirar do plano volátil da mente e transferir para o mundo exterior. Fazendo um paralelo com o Direito Penal: começar a sair da mera cogitatio!

Há uma pesquisa feita em Harvard, na qual se constatou que apenas 3% dos profissionais escreviam suas metas e os planos de ação. Leia o que expõe a coach Vania Marques resumindo a pesquisa:

“As pessoas no topo pensam em suas metas a maior parte do tempo. E não só pensam como as têm por escrito. Existe uma famosa pesquisa da Universidade de Harvard em que todos os formandos de determinado ano foram questionados sobre a clareza em relação ao seu futuro. Do total, 86% não tinham noção para onde estavam indo, 10% sabiam mais ou menos o que iriam fazer a partir da formatura e apenas 3% tinham suas metas detalhadas por escrito e os respectivos planos de ação, com previsões para curto, médio e longo prazo.

Dez anos depois, a segunda parte da pesquisa constatou que o grupo dos 3% estava valendo dez vezes mais, economicamente, do que a soma dos outros 97%. Além de apresentarem maiores salários, também estavam mais felizes, mais saudáveis e tinham mais amigos, o que aumentava a autoconfiança e o potencial de autorrealização.” (https://www.vaniamarquescoach.com/single-post/2017/03/28/O-poder-das-metas-por-escrito)

Fica aqui uma técnica de elaboração de meta (existem muitas outras, como VGROW, ACERTE, Disney…) chamada SMART, resumida abaixo. Preencha em um arquivo de computador, em um pedaço de papel sua meta (ou suas metas), atendendo aos seguintes critérios:

SPECIFIC – a meta deve ser específica, como por exemplo “mudar a sede do escritório para o bairro X, na rua Y, em um sobrado com Z ambientes”.

MEASURABLE – deve ser mensurável, como “conseguir dez novos clientes até o fim do ano”.

ACHIAVABLE –  deve ser algo realista, e não algo utópico como “sair do zero e conseguir cem novos processos em dois meses”.

RELEVANT – deve ser relevante sistemicamente, ter a ver com os valores da pessoa ou da organização. “Fazer um mestrado”, por exemplo, deve ser relevante e coerente com os objetivos profissionais em geral.

TIME BASED – a meta deve ter um prazo para ser alcançada. “Fazer uma pós em direito urbanístico” é diferente de “fazer uma pós em direito urbanístico em até três anos”.

A atitude de escrever as metas, em especial atendendo aos critérios técnicos próprios, por si só já amplia a consciência sobre aquilo que se quer, já demanda um grau de organização e uma mínima alteração no mundo exterior. Por isso é altamente recomendável colocar no papel ou em algum dispositivo aquilo que você quer!

 

Foca no foco

Mas como manter o foco para atingir a meta?

Nos conhecendo, começamos a compreender quais são nossos principais valores. A partir daí, elaboramos nossas metas e nossos objetivos. Mas nem sempre é fácil chegar lá, porque qualquer meta razoavelmente relevante – senão nossos sonhos, ou o chamado “futuro irresistível”, como chamamos no Coaching – não costuma ser fácil.

Ao gênio da tecnologia Steve Jobs é atribuída a seguinte fala sobre a questão do foco:

“Algumas pessoas acham que foco significa dizer sim para a coisa em que você irá se focar. Mas não é nada disso. Significa dizer não às centenas de outras boas idéias que existem. Você precisa selecionar cuidadosamente. ”

Ou seja, a primeira coisa é decidir o que se quer, o que normalmente implica em escolhas, deixando de lado outras ideias.

Depois vem o problema da atenção. O principal problema que vemos por aí é a falta de foco no sentido de concentração propriamente dita. E normalmente o problema do foco advém da mente divagadora.

Daniel Goleman, no livro “Foco”, diz a respeito:

“Capturar uma mente divagando no ato é difícil. Mais frequentemente do que imaginamos, quando nos perdemos em pensamentos, falhamos no intuito de perceber que nossa mente chegou a divagar. Perceber que a nossa mente está divagando marca uma mudança na atividade cerebral; quanto maior esta metaconsciência, mais fraca se torna a divagação da mente.” (pág. 59)

O volume atual de informações, absurdo se comparado ao de poucas décadas atrás, leva ao que o autor chama de “fadiga da atenção” quando focamos por algum período a atenção em algo específico, porque temos de nos esforçar para evitar todo o resto do turbilhão de informações.

Claro, em especial em tempos de smartphones e redes sociais, bastante mencionados na obra como ladrões de foco. Né?

A boa notícia é que o estudioso propõe a solução:

“O antídoto para a fadiga da atenção é o mesmo para a fadiga física: descansar. Mas como descansar um músculo mental? Tente trocar o esforço de controle descendente para atividades mais passivas ascendente, fazendo uma pausa relaxante num ambiente tranquilo. Os ambientes mais tranquilos estão na natureza, argumenta Stephen Kaplan, da Universidade de Michigan, que propõe o que ele chama de ‘teoria da restauração da atenção’.” (pág. 60)

Então, o plano é sempre que possível descansar o foco, em especial em lugares tranquilos como praias, zonas rurais, bosques, etc.

Resumindo: autoconhecimento nos leva a encontrar nossos valores, que nos motivam porque nos ligam ao que é realmente importante, e nos ajudam a manter o foco, o qual por sua vez demanda períodos de atividade e de repouso.

Simples, mas não fácil…

Ou é fácil? Comente, deixe suas impressões…

Tá na moda dizer “foco, força e fé”. Então, foco, força e fé!

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Referências bibliográficas

GOLEMAN, Daniel. Foco: a atenção e seu papel para o sucesso. Trad. Cássia Zanon. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014

Author

Fabricio Almeida Carraro - Coach Jurídico (Formação em Coaching, Master Practicioner em PNL e Pós-graduação em PNL e Coaching) e Advogado formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL)

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